terça-feira, 7 de maio de 2024

 LAING, R. D. A Política da experiência e a ave-do-paraíso. Petrópolis: Vozes, 1974.

LAING, R. O si mesmo (self) e o outro; interação e interexperiências nas Díades. In.: LAING, R. D.; PHILLIPSON, H.; LEE, A. R. Percepção interpessoal; uma teoria e um método de pesquisa. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado, 1966.

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MERLEAU-PONTY, M. Por toda parte e em parte alguma. In: MERLEAU-PONY, M. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p 137-174.

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MÉTODO FENOMENOLÓGICO DE VIKTOR FRANKL: POR ELE MESMO

“Nós, os psiquiatras [e outros "psi's"], não podemos ‘receitar’ sentido. Mas podemos descrever, mediante a análise fenomenológica, o que se passa numa pessoa que encontra o sentido. E essa análise revela-nos um elemento a que gostaria de chamar ‘o óbvio ontológico pré-reflexivo’; ou seja, aquilo que o homem comum, o homem [ou pessoa] da rua, quer dizer quando fala de ‘ser homem’ [ser pessoa] , fazendo uso do seu senso comum, da sua sapientia cordis” (FRANKL, 2003b, p.31) 

A fenomenologia o método de investigação adequado no sentido de operar essa “tradução”, ou seja, a experiência cotidiana comum passa por uma análise fenomenológico-existencial, passa por uma tradução. Por sua vez, a Logoterapia, a partir disso, deve “retraduzir” para uma linguagem simples o que se apreendeu dessas análises fenomenológicas.

FONTE: FRANKL, Viktor Emil. Sede de Sentido. São Paulo: Quadrante, 2003.

 O POSSÍVEL MÉTODO FENOMENOLÓGICO UTILIZADO PELO EXISTENCIALISTA VIKTOR EMIL FRANKL

Hiran Pinel, autor.

(...)

Em resumo, o método fenomenológico de pesquisa utilizado por Viktor Frankl, enquanto ele pesquisava, pode apresentar algumas características indisssociadas (não-lineares). 

O que há de originalidade é sua própria teorização do sentido da vida e da logoterapia, no mais é o método fenomenológico, mas que destaca o modo dele trabalhar. Há características que identificam o método fenomenológico em todas as instâncias: epoché (suspensão), eidos, "ir às coisas mesmas", "ser-no-mundo', consciência, "experiência vivida" e essência. Há em comum com todas as ciências: produzir uma descrição, que torna fenomenológica, quando falamos em descrição compreensiva. Outros termos fenomenológicos: empatia, análise existencial dos dados, foco na primeira pessoa (ela narra sua experiência), subjetividade e intersubjetividade. 

A lista que caracterizam seu método se deu a partir de nossa leitura, análise e pesquisa do livro "Em Busca De Sentido: Um psicólogo no campo de concentração", bem como discussão da história do próprio texto.

·                  Ficar atento no texto em  primeira pessoa: A pesquisa de Frankl se baseava na análise aprofundada dos relatos dos indivíduos, buscando entender suas vivências a partir de suas próprias perspectivas. Através de entrevistas e análises de diários, ele buscava captar a essência das experiências, indo além das meras descrições superficiais.

·                  Experiência surpresa: A partir daí o sentido pode ser localizado ENTRE uma "experiência-surpresa" e uma percepção gestáltica, pois de modo sensível e provocador, de repente, não mais do que de repente, emerge um sentido (da vida) diante de nosso olhar, ou melhor, da nossa percepção, pois é algo que (co)move nosso organismo e (nosso) corpo. Trata-se de uma percepção de sentido.

·                  Descobrir o sentido: Frankl (1990, 1991; 1995) diz que a via de um "processo de descoberta do sentido" pode tomar como primeiro passo a utilização de depoimentos, de "material biográfico" (FRANKL, 1990, p. 22; 1991; p. 123) acerca da vivência de sentido.

·                  Ênfase na subjetividade e na unicidade: das experiências humanas, ainda que considere o mundo, o próprio Nazismo aparece em seus relatos e ele nos diz "ser-no-mundo'; intersubjetividade; interexperiência; inter-humano. Trata-se essencialmente da subjetividade, mas sem ignorar o outro, os outros, mundo, a geografia, a sociedade, a cultura, a história, a economia, a segurança, a saúde e saúde pública, a escolarização etc.

·                  Empatia: Frankl defendia a empatia, exigindo que o pesquisador se colocasse no lugar do outro como "se" o fosse, (pró)curando      compreender as vivências com o outro. E colocado ao pesquisados em postura de abertura e interesse sincero. Essa atitude é fundamental para evitar interpretações distorcidas e captar a autenticidade das experiências.

·                  Intencionalidade e sentido: Para Frankl, a intencionalidade era um aspecto central da existência humanaCada indivíduo busca atribuir sentido às suas experiências, mesmo as mais dolorosas. A tarefa do pesquisador fenomenológico, nesse contexto, era (des)vendar os sentidos que os indivíduos construíam para suas vidas, mesmo em situações extremas. Na intencionalidade humana como se desvela o sentido da vida e seus enfrentamentos otimistas, ainda que a "tragicidade" exista

·                  Suspensão dos de (pré)conceitos: estigmas, discriminações, bem como teorias estudadas e já produzidas, conceitos antecipados - dentre outros que atrapalham a epoché, que é um mergulho na existência do outro; um mergulho livre e aberto ao outro. É adequado recordar com Merleau-Ponty que toda epoché é relativa, encontra limites, mas isso não impede que o cientista tente

·                  Descrição do vivido pelo outro: deve ser construída de modo ampliar a compreensão acerca do outro; acompanhar esse outro com uma racionalidade indissociada do corpo e do afeto, o eidos, ou um momento em que se exige do pesquisador um distanciamento relativo do campo, pois ao escrever seu livro, tese, artigo científico, precisará recordar do seu vivido com a pessoa que se dispõe a colaborar na sua pesquisa. A descrição supõe uma ação mais racional. "Nós, os psiquiatras [e outros "psi's"], não podemos ‘receitar’ sentido. Mas podemos descrever, mediante a análise fenomenológica, o que se passa numa pessoa que encontra o sentido'

·                  Descrição compreensiva: (com+preender); apreender o sentido da vida do outro, "com" o outro.

·                  Uma disposição atentiva de "ir às coisas mesmas": ir ao texto "produzido mesmo", por exemplo; o texto é a descrição do vivido, ou uma descrição narrativa - voltar sempre a ele. Atento ao objetivo humano de descrever o "que é' e o 'como é" ser, chegar a essa essência, e assim "retornar às coisas mesmas". De modo mais abrangente, "ir as coisas mesmas" é "viajar" profundamente ao mundo da experiência (contido no texto, no caso). Essa viagem implica em "epoché" da primeira vez; "ir" desarmado ao texto e envolver-se existencialmente com o escrito (e com isso a pessoa pesquisada). Além da epoché, é demandando o eidos revelando o rigor científico do método fenomenológico: emoção e razão, corpo e em Frankl, o espírito.

·                  Centrar na intencionalidade: ninguém escapa da intencionalidade; a consciência é sempre intencional

·                  Reconhecimento da vontade de sentido como força motivadora fundamental; o desejo; o interesse.

·                  Pesquisa do narrador": pode ser que o pesquisador faça uma pesquisa fenomenológica que propõe ele descrever e narrar o seu próprio processo em pesquisa; na primeiríssima pessoa; o pesquisador é o sujeito da sua própria pesquisa; isso pode ser compatível com livro de Frankl: "Em busca de sentido", quando descreve o dia-a-dia nos campos de concentração, o cotidiano vivido; Viktor, ele próprio, é o testemunha ocular da história

·                  Busca pelo sentido: Identificar o que dá significado à vida do indivíduo, como ele acha e procura, e acha e procura...

·                  Diálogo existencial: no caso da pesquisa, o cientista dialoga com os dados colhidos, produzindo uma reflexão acerca do "sentido da vida";

·                  Análise fenomenológica da vivência: Frankl analisou as experiências dos prisioneiros nos campos de concentração, buscando compreender seus pensamentos, raciocínios, desejos, emoções, sentimentos e comportamentos, expressões corporais e vida espiritual dentro daquele contexto, daquela comunidade, sociedade, cultura... (e corpo) além do vida espiritual. Analisar os dados coletados na pesquisa, e depois analisar existencialmente o casa, a pessoa.

·                  Tradução: A fenomenologia o método de investigação adequado no sentido de operar essa “tradução”, ou seja, a "experiência cotidiana" comum passa por uma análise simples, acima dos dados mesmos coletados, por isso a condição potente de ir às "coisas mesmas", todo esse processo em uma linguagem simples, tal qual a coletada e ou produzida no campo. Mas, é preciso fazer uma "análise fenomenológico-existencial", quando passa o texto do cotidiano para uma "traduçã" numa linguagem científica - então há uma tradução (do vivido no dia-a-dia comum) e depois uma "retradução", dialogando o que se apreendeu dessas análises fenomenológicas e as teorizações, no caso, a produção científica de Frankl.

·                  Descoberta da vontade de sentido: Através da análise fenomenológica, Frankl identificou a vontade de sentido como a principal motivação humana, mesmo em situações extremas como o Holocausto. 

ELEMENTOS VITAIS DA LOGOTERAPIA QUE PODEM SER UTILIZADOS EM PESQUISA CLÍNICAS (OU NÃO) DE ESTUDO DE CASO DESCRIVO DE UMA PESSOA OU UM GRUPO:

·                  Análise Existencial: Explorar as experiências e crenças do indivíduo/ sujeito da pesquisa para descrever seu encontro com o sentido, como isso aconteceu - isso, se a pessoa não está desesperançada, pois aí é o cuidado (intervenção explícita)

·                  Análise de sonhos: Através da análise fenomenológica dos sonhos, Frankl buscava acessar o "inconsciente" do paciente e ajudá-lo a compreender seus conflitos e motivações. Os conteúdos e a temática dos sonhos analisados comprovam que são um caminho de acesso ao "inconsciente espiritual". É outro elemento típico de psicoterapia, mas pode ser utilizado na investigação, onde o pesquisador analisa o sonho do sujeito descrevendo o esse  "inconsciente existencial" (não inconsciente freudiano).

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[Hiran Pinel, autor]

Em citando recorra as legislações que exigem dar autoria.



O POSSÍVEL MÉTODO FENOMENOLÓGICO DE FRANKL ANALISANDO  UMA DE SUAS OBRAS

Anteriormente, em 1998, Pinel descreveu o "método fenomenológico" de Viktor Frankl. O autor se baseou em estudos de grupos objetivando analisar a obra "Diário de um psicólogo no campo de concentração", caracterizando o método fenomenológico dele, que te o universal, e o individual (sua criação).

Ao nosso olhar de sentido, ele destaca a subjetividade do "ser-no-mundo" e na unicidade das experiências humanas - são únicas na pluralidade do mundo.

O termo e a ação empática, a presença dela, é altamente presente nos escritos franklianos, até mesmo por sua postura clínica, um interesse autêntico em debruçar com a pessoa que sofre. A empatia nos leva ao sentido vivido de fazer a epoché, ou fazer a suspensão ou então a ação de nos colocar entre parênteses, de modo temporário, os preconceitos, estigmas, discriminações - e outros (pré)conceitos como teorizações lidas e que devem ficar de fora etc., ou pelo menos tentar isso, pois sentimos [e sabemos] de que todo epoché é sempre relativo, pois tem seus limites, mas isso não impede que se tente.  époché (suspensão). Nesse sentido, Forghieri (2001) sugere, nessa etapa, uma outra perspectiva, que em si mesma, já pontua os limites, e ela nos descreve que o investigador produza um clima, um estilo e um espírito de "envolvimento existencial" com a   ''coisa mesma", qual seja, com o fenômeno que estuda e que tem que estar presente na experiência.

Pontua o valor de se  produzir uma descrição e análise existencial amiúde, detalhada - enfim, um texto aprofundado dos relatos de experiência em primeira pessoa. Uma descrição detalhada se torna compreensiva, pois analisada pelo próprio sujeito da pesquisa, que cria esse clima como o leitor motivado.

Bem, nesse meio, pois todas essas etapas são vividas de modo indissociadas, então preciso que o pesquisador vá sempre busque o sentido da vida, e para isso ela deve "ir às coisas mesmas", com a "intencionalidade" evidente, trazendo as uma ou mais essências. Na pesquisa, a "coisa mesma'' de modo didático, pode ser aos textos das descrições. Ir ao texto, procurando perguntá-lo; o que é isso de ser? E como é isso de ser? Trata-se de interrogar ao texto: o "que é" e o "como é" ser considerando o que eu estou motivadamente lendo nessa descrição?

Devemos nos aproximar ao  termo "percepção do sentido", desvelando qual o sentido do texto, que é o sentido da pessoa que colabora com sua pesquisa e que descreve narrativamente sua história de vida.

Fazer uma "análise existencial" científica, sabendo que ela nos conduz justo com essa intencionalidade de ser cientista. É um profissional, que propõe produzir conscientemente um texto fenomenológico (logo: científico). Trata-se de uma intenção da consciência, que chamamos de eidos. Nesse mesmo contexto é que Forghieri contribui com algo que se aproxima "disso-daí-mesmo", que é o que ela denomia de "distanciamento reflexivo", e refletir aqui-agora significa "descrever compreensivamente o vivido", dando a ele significado-sentido. Nesse ponto, distanciamento reflexivo é indissociado do envolvimento existencial, ainda que em cada situação um movimento predomine sobre o outro.

Também vimos em Frankl o estímulo em produzir um "foco atento" na natural "intencionalidade" pela (pró)cura ou na  "busca pelo sentido". Descrevemos o ser do "ser humano" que é "ser-no-mundo". Em Frankl, o sentido aí indica a presença do "sentido da vida", um sentido que sempre há, não sendo, pois, algo criado e ou inventado - podemos inventar termos, palabras, dizê-las e ou agirmos com ele, mas, a vida, ela mesma, tem sentido, e pronto, quando não o temos, ele está lá precisando ser resgatado.

O pesquisador não deve furtar-se de viver "na carne" a "vontade de sentido", fazendo isso como uma força potente ''motivadora'' fundamental do existir humano. Assim, ser cientista é estar interessado em ocupar esse lugar/espaço, em um tempo.

Trata-se de uma pesquisa que propõe ao cientista narrar seu processo em pesquisa, o que hoje configura como "pesquisa do narrador". Frankl fez isso no seu estudo, que se o transformou em  um livro sub-titulado no Brasil por como "diário (advindo do espaço-tempo de pesquisa) de um psicólogo em campo de concentração", tornando-se, atualmente, um referencial nessa proposta de "pesquisa do narrador".      . 

Há ainda uma proposta fenomenológica, que percebida pelo cientista que sugere a ele adotar uma "postura atitudinal fenomenológica" que se aproxima totalmente do que se denomina de epoché (suspensão) e eidos (momento da descrição refletida). Trata-se do momento quando narramos nossas próprias vidas ou nossas biografias, esse tema já foi abordado anteriormente nessa lista, mas ele compõe uma identificação mundial do método, além do "ir ás coisas mesmas", por ex.

Há sentido aí  da análise dos dados que chamamos de "análise existencial". algo que se trata de (pró)curar compreender a profundidade das experiências humanas, e o de encontrar sentido na própria existência, mesmo diante das vicissitudes. Na pesquisa com marco teórico de Frankl é preciso que a analise traga o clima, o estilo, o espírito prático contido na teorização, além de colocar a terminologia que nos indica esse clima.

[Hiran Pinel, autor] 

Em me citando, obedeça as normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, e ou outra norma como a APA e outras.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

UM PSICÓLOGO EM TEMPOS EM DESASTRES & EMERGÊNCIAS 

Morro do Macaco, Vitória, ES: uma tragédia ambiental que marcou a presença de profissionais de ajuda junto e com o que moradores que perderam suas casa, e entes queridos, além de amigos. Tudo aconteceu na madrugada do dia 15 de janeiro de 1985. O balanço após o deslizamento contabilizou 40 pessoas mortas, 150 feridas, vários desaparecidos e mais de 600 famílias desabrigadas. "A noite que pareceu durar dias começou quando uma pedra com aproximadamente 150 toneladas deslizou, destruindo tudo o que tinha pela frente, inclusive dezenas de casas e algumas famílias. (...) Na época, o Morro do Macaco era habitado por cerca de quatro mil pessoas" (A Gazeta; Publicado em 13 de janeiro de 2018). Na época eu participei como psicólogo em tempos urgentes de tragédia ou Psicologia em Desastres e Emergências. Eu era o único psicólogo, e um bom número de assistentes sociais. Todos nós éramos funcionários de ajuda (ou de cuidados) estaduais (funcionários públicos, então) que trabalhávamos no hoje antigo Instituto Espírito-Santense do Bem-Estar do Menor (IESBEM). Fomos convocados e atuamos em em situação de desespero social de impacto na vida subjetiva. Recordo que atuei recorrendo à teoria multidimensional de Robert Carkhuff (relação de ajuda), Terapia Existencial e a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, amorosidade, escuta, ser mais, conscientização crítica, humanidade e desumanidade - cada referencial, um espaço-tempo de ser-no-mundo. Foi uma experiência muito importante, não só pra mim, mas para alguns outros psicólogos interessados e que procuraram-me, bem como, é óbvio, para os próprios moradores marcados por uma situação que tem muito a ver com a classe social. Eles e elas moravam em um morro, do tipo periferia, e que o Estado como um todo, e todo o poder político nele presente, sabem dos riscos desses lugares em períodos chuvosos (ou não). Na época eu também era orientador educacional, e fazia mestrado em Educação, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo, PPGE/Ufes, talvez por isso, ou com a certeza do meu lado, recorri a Freire nas minhas intervenções, ou melhor, práticas educacionais. O profissional de ajuda/ cuidado deve sempre estar cientificamente sintonizados também nessas situações, pois tais saberes-fazeres-sentires tem produção significativa que muito pode nos ajudar a intervir com efetividade (e afetividade) e com resolução de problemas. Outro dado, é que o trabalho foi em equipe, o facilitou muito as escolhas e nossas responsabilidades por elas: nossa e da população atingida, do Estado etc.

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Hiran Pinel, autor; professor, pesquisador, terapeuta existencial.


domingo, 7 de abril de 2024

 

Diferença entre Eidos Epoché no Método Fenomenológico de Pesquisa:

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Hiran PINEL, autor.
Em copiando direta e ou indiretamente, referende segundo as normas propostas, no nosso caso, a ABNT.
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INTRODUÇÃO

Há dois momentos indissociados quando se aplica o método fenomenológico objetivando pesquisa e a produção de um artigo científico, por exemplo; ou planeja-se uma prática educacional (existencial) ou uma ação clínica (terapia e ou psicanálise existencial).
Quais são esses dois momentos? O que é e como é fazer isso?
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

[1] Eidos:
  • O termo "eidos" vem do grego e significa "essência" ou "forma ideal".
  • No método fenomenológico, o eidos se refere à busca pela estrutura essencial de um fenômeno, ou seja, pelas características que o definem e o distinguem de outros fenômenos.
  • O eidos é algo universal e atemporal, que não depende das experiências individuais ou das interpretações subjetivas.
  • Para chegar ao eidos de um fenômeno, o pesquisador fenomenológico, ou um educador e terapeuta fenomenológico-existencial, atua fazendo acontecer uma redução eidética, ao seu vivido, mas que impõe uma temporária suspensão ou "levantamento para fora" de conceitos pré-estabelecidos, ou pré-conceitos, dos próprios preconceitos, discriminações, estigmas, e bem como de opiniões pré-concebidas, ou mesmo teorizações sobre o fenômeno, e só depois, provoca uma centralização ou uma focalização, a arte e técnica de focar, naquilo que se apresenta de maneira percebida como pura e evidente. Bem, no caso, o pesquisador/cientista, o terapeuta/ psicanalista existencial, aconselhador terapêutico, filósofo clínico, psicopedagogo clínico e ou psicólogo clínico, musicoterapeuta, psicomotricista, psiquiatra etc., deve pensar-sentir-agir o que foi (e para ele o é) o significado de "pureza evidente" para o tempo-espaço de Husserl.
[2] Epoché:
  • O termo "epoché" vem do grego e significa "suspensão" ou "colocar entre parênteses" por um tempo, no tempo que se propõe "suspender", pois as coisas voltam ao seu comum, ao cotidiano.
  • No método fenomenológico de pesquisa (uma profissional de ser cientista, de produzir conhecimento) e ou de ação profissional (de atendimento clínico da psicopedagogia e ou terapia, ou uma aula), a epoché se refere à suspensão do juízo natural sobre o fenômeno que está sendo investigado. No caso do processo aula, o professor ou educador chega à sala de aula, e se coloca com o grupo, em uma postura de escuta de estar ali-agora juntos, em "comum-união", a espera do conteúdo que o próprio grupo tem, e que pouco interessa o estipulado pela sociedade. Na aula estamos em um grupo de aprendizagem cujo conteúdo emerge dele mesmo, individual e grupal, singular e plural, específico e geral, local/ estadual/nacional e internacional.
  • Epoché? O que isso significa? Ora, é o momento em que o cientista, aquele que recorre ao método fenomenológico de pesquisa (que por si só, é uma prática educacional e ou intervenção clínica) deve (pró)curar e ou tentar abster-se de fazer qualquer tipo de julgamento ou melhor. Nesse momento o cientista (pró)cura (e ou esforça-se) fazer isso, evocar-se da urgência de criar um esforço que chegue a isso, e que será algo que valha a pena, pois esse é um dado focal da identificação do método fenomenológico em relação aos outros métodos que circulam "por-aí". É uma atitude arrojada de suspensão de ideias e ações pré-estabelecida. Ir suspenso sobre a realidade do fenômeno, que pretende investigar (ou atender) descrevendo seu existir consigo mesmo (com os outros, no mundo), o "que é" e "como é" ser da pessoa com o fenômeno, o sentido dele se expressar aqui-e-agora, a motivação dele se (des)velar.
  • A epoché é um passo fundamental para evitar que as (pré)concepções do pesquisador influenciem a sua análise do fenômeno.
Em resumo:
  • eidos se refere à busca pela essência do fenômeno, enquanto a epoché se refere à suspensão do juízo sobre o fenômeno.
  • eidos é algo universal e atemporal, enquanto a epoché é uma atitude que o pesquisador deve adotar durante a investigação.
  • epoché é um passo necessário para chegar ao eidos do fenômeno.
Exemplo:
Imagine que você está pesquisando a experiência de viver a dor.
  • eidos da dor seria a sua essência, ou seja, aquilo que a define como dor e a distingue de outras experiências.
  • Para chegar ao eidos da dor, você precisaria realizar uma redução eidética, suspendendo as suas (pré)concepções sobre a dor e focando naquilo que se apresenta de maneira pura e evidente.
  • epoché seria um passo fundamental nesse processo, pois você precisaria abster-se de fazer qualquer tipo de julgamento sobre a realidade da dor, sua natureza ou suas causas.
  • Ambos os movimentos são indissociados
  • Ambos movimentos NÃO são totais e plenos, limitados que são pelo própria existir do ser-aí (Dasein) ser-no-mundo.
  • Os movimentos fenomenológicos são relativos, mas que pede um esforço do pesquisador, uma luta sutil e sensível - e generosa de assepsia de um balaio cheio de informações, por vezes, atordoantes, muita coisa pré-estabecida, disse-me-disse etc. Fazer um exercício fenomenológico implica produzi-lo sem desgastes subjetivos e comportamentais do investigador, para provar que o método fenomenológico é a melhor ferramenta e excelente dispositivo para estudar a experiência de ser do ser humano que é ser-no-mundo, sua subjetividade em ação, subjetivação.

CONCLUSÃO

Para aprofundar seus conhecimentos sobre eidos e epoché no método fenomenológico de pesquisa, você pode consultar as seguintes obras:
· HUSSERL, Edmund. A ideia da fenomenologia (1907)
· HUSSERL, Edmund. Coleção Os Pensadores. ed. Abril
· HUSSERL, Edmund. A crise da humanidade europeia e a filosofia.
· HUSSERL, Edmund. Conferências de Paris.
· HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas: introdução à fenomenologia.
· DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia?
. LYOTARD, Jean-François. A Fenomenologia.
· DEPRAZ, Natalie. Compreender Husserl.
· MOREIRA, Daniel Augusto. O método fenomenológico na pesquisa.
· HEIDEGGER, Martin. (1927). Ser e tempo.
· MERLEAU-PONTY, Maurice. (1945). Fenomenologia da percepção.
MERLEAU-PONTY, Maurice. As ciências do homem e a Fenomenologia
· SARTRE, Jean-Paul. Ser e nada.
· SARTRE, Jean-Paul. Questão de método.
· SARTRE, Jean-Paul. Crítica da razão dialética - MINHA NOTA: aqui tem um capítulo sobre "o método", e um outro, perfeito, que adoro, sobre a "Psicanálise Existencial".
· FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia Fenomenológica.
· FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Aconselhamento terapêutico.
· AMATUZZI, Mauro Martins. Por uma psicologia humana.
· PINEL, Hiran. Método fenomenológico existencial para o terapeuta, professor e educador.
· PINEL, Hiran. A formação do pedagogo hospitalar como um ator no/do clonw pelo método fenomenológico existencial.
· PINEL, Hiran. O método fenomenológico na formação da professora de classe hospitalar.
· PINEL, Hiran. Pedagogia hospitalar; uma abodagem centrada na pessoa encarnada.
· PINEL, Hiran. Brincar de viver enquanto a vida há; os profissionais nos espaços (e tempos) da brinquedoteca hospitalar.
· PINEL, Hiran. O método fenomenológico aplicado à Pedagogia Especial, Hospitalar e Inclusiva: a pesquisa e as práticas educacionais.
. PINEL, Hiran. Variação eidética; a prática na pesquisa pedagógica.

NOTA
Sempre é adequado ter a humildade não-submisa de recordar ao leitor de que um bom modo de ser na Fenomenologia é a de entender (e quem sabe, compreender) as diferenças (e semelhanças) entre eidos epoché consultando as fontes de onde nasceram tais ideias, a começar por Husserl seu criador, e seu renomados e grandes (e de certa autonomia do mestre) e seguidores como Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, Trần Đức Thảo, Alfred Schutz, Rollo May, Hans Georg Gadamer, Yolanda Cintrão Forghieri Teresa Erthal, Virgínia Moreira, Irving D. Yalom etc., e se familiarizar com os debates e pesquisas que foram realizados no âmbito da fenomenologia.
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